O LETES DO CARIBE

 

Ubiratan Iorio

 

(artigo de 6/8 no Jornal do Brasil)

 

    

          

Em todas as competi��es esportivas internacionais de que Cuba participa, atletas daquele pa�s escafedem-se da concentra��o, desaparecem por algum tempo e depois pedem asilo pol�tico ao pa�s que organiza o evento. Nos Jogos Pan-Americanos recentemente realizados no Rio n�o foi diferente, a ponto do ditador-irm�o-substituto, Raul Castro, ap�s mais algumas dessas fugas e com medo de novas deser��es, ter ordenado que a delega��o antecipasse o seu retorno ao pa�s, antes mesmo de receber as medalhas do basquete, embora, naturalmente, negasse com veem�ncia a medida. � �bvio que precisava negar, para n�o passar recibo.

 

At� um obstinado carrapato agarrado a um esqu�lido jegue pastando placidamente em Garanhuns sabe a raz�o das fugas, mas os pretensos intelectuais tupiniquins e uma parte de nossa m�dia teimam em apresentar a ilha-pres�dio comandada h� meio s�culo pelo mesmo ditador como um para�so caribenho, um exemplo de democracia popular a ser imitado e implantado n�o apenas no Brasil, mas em toda a Am�rica Latina. Conforme os documentos do Foro de S�o Paulo e as a��es da atual pol�tica externa de Amorim e do obsceno senhor Garcia est�o a� para atestar, o sonho-pesadelo do ris�vel Hugo Ch�vez, sorrateiramente acalentado pelas chamadas cabe�as pensantes (sic) do petismo e das esquerdas latino-americanas, � remontar aqui uma r�plica da antiga URSS. Parecem torcedores do S�o Crist�v�o, campe�o carioca de 1926...

 

O que leva nossa intelectualidade ballantines a continuar pintando o regime decr�pito e comatoso de Cuba com as cores do para�so, quando na realidade � um inferno, ao qual cabe perfeitamente o d�stico de Dante, lasciate ogni speranza, voi ch�entrate? Hayek, em Intellectuals and Socialism e Mises, em diversos artigos e livros, esquadrinharam essa doen�a que acomete muitas pessoas bafejadas pela fama e sucesso, que as leva a adotarem o socialismo como um escudo, para simularem que, apesar de ricos (resultado que apenas reflete sua aptid�o natural), preocupam-se com os exclu�dos. A explica��o est� muito mais nos meandros da psicologia do que nas frias escolhas da teoria econ�mica, despida de capacidade de mergulhar na alma humana. Sentindo-se, de alguma forma, culpadas pelo pr�prio sucesso, quando deveriam estar felizes com os resultados de seu trabalho e talento, precisam dar uma explica��o para o seu �xito, at� mesmo para que possam continuar a usufruir as del�cias mundanas da fama, e o fazem apoiando o socialismo e, naturalmente, o cruel regime cubano. Assim, a massa ignorante - que n�o sabe discernir igualdade de oportunidades de igualdade por decreto -, os v� com bons olhos.

 

Os atletas de Cuba podem ser mal educados, mas s�o, em geral, excepcionais. N�o mais do que os nossos, s� que, como em qualquer ditadura que se preze, l� o Estado trata os esportes como uma quest�o pol�tica, de afirma��o da pretensa superioridade do regime. Da� o seu sucesso e as suas medalhas. Mas quem se apropria de suas suadas vit�rias, a n�o ser os que mandam no pa�s? De que adianta voc�, amigo leitor, bater um recorde mundial em sua modalidade, se, ao retornar � sua casa, mesmo tendo comprovado o seu talento e vendo coroado de �xito o seu esfor�o, vai continuar a ter direito aos mesmos quatro ovos de galinha mensais que o governo estabelece como cota para todos? � �bvio que, na primeira oportunidade, ap�s pesar custos e benef�cios da decis�o de pedir asilo no exterior, muitos decidem que o custo de ficar longe da p�tria, da fam�lia e dos amigos � inferior ao benef�cio da liberdade e do �xito que podem obter no estrangeiro. Estes s�o os motivos das fugas. N�o h� outros. Se algu�m com mem�ria melhor do que a minha conseguir apontar algum caso de um vietnamita do sul que fugiu para o Vietn� do Norte, de um ex-alem�o ocidental que se evadiu para a antiga Alemanha comunista, de um coreano do sul que escapou para o norte ou de um norte-americano que buscou asilo em Cuba, darei o bra�o a torcer.

 

Porque o para�so cubano a Disneyl�ndia da esquerda - nada tem de para�so. Est� mais para um pres�dio leteu, encravado nas margens do Letes, um dos cinco rios do Inferno mitol�gico!

 

 

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