O PARA�SO INFERNAL

 

Ubiratan Iorio

 

(Artigo do M�s - Ano VI - N� 65 � Agosto de 2007)

 

    

          

� sempre assim. Em todas as competi��es esportivas internacionais de que Cuba participa, atletas daquele pa�s escafedem-se da concentra��o, desaparecem por algum tempo e depois pedem asilo pol�tico ao pa�s que organiza o evento. Nos Jogos Pan-Americanos recentemente realizados no Rio n�o poderia ser diferente, a ponto do ditador-irm�o, Raul Castro, ap�s mais algumas dessas fugas, ter ordenado que a delega��o cubana antecipasse o seu retorno ao pa�s, embora, naturalmente, negue com veem�ncia a medida. � �bvio que tem que negar, para n�o passar um atestado que todos os que sabem pensar por conta pr�pria sabem que � verdadeiro.

At� um obstinado carrapato agarrado a um esqu�lido jegue pastando placidamente em Garanhuns sabe a raz�o das fugas, mas os pretensos intelectuais tupiniquins e uma parte de nossa m�dia teimam em dar de ombros, mudam de assunto e continuam apresentando a ilha-pres�dio comandada h� meio s�culo pelo mesmo ditador como um para�so caribenho, um exemplo de �democracia popular� a ser imitado, copiado e implantado n�o apenas no Brasil, mas em toda a Am�rica Latina, conforme os documentos do Foro de S�o Paulo, bem como as a��es de nossa atual pol�tica externa, comandada por Amorim e pelo obsceno senhor Garcia, est�o a� para atestar, sem qualquer possibilidade de refuta��o � altura. � o sonho-pesadelo (ou pesadelo-sonho) do ris�vel Hugo Ch�vez, encampado e sorrateiramente acalentado pelas chamadas cabe�as pensantes do petismo e das esquerdas latino-americanas: implantar aqui uma r�plica da antiga URSS. Parecem torcedores do S�o Crist�v�o, campe�o carioca de 1926...

O que leva nossa intelectualidade ballantines ao engodo de continuar apresentando o regime decr�pito e comatoso de Cuba como um para�so, quando na realidade � um inferno, ao qual cabe perfeitamente o d�stico de Dante, lasciate ogni speranza, voi ch�entrate? Para essa gente � a rigor, intelectualmente desqualificada � a ilha de Castro � uma verdadeira Disneyl�ndia, com belas praias, m�sica de ritmo contagiante, um povo que vive feliz e adora o seu feitor. S�o professores (geralmente de universidades p�blicas), artistas, jornalistas, articulistas, economistas, cientistas pol�ticos, ge�grafos, historiadores e antrop�logos, muitos dos quais com fama, sucesso e dinheiro no banco, que insistem nesse embuste que s� engana a quem quer ser logrado: Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Paulo Betti, Luc�lia Santos, Gilberto Gil e muitos outros. Todos com ineg�vel talento e sucesso. Todos bem de vida. Mas preferem continuar morando no Brasil, para eles a quinta-ess�ncia do maldito capitalismo predador... No caso do centen�rio Oscar Niemeyer, h� um agravante: o arquiteto que construiu Bras�lia, uma cidade para formigas, abelhas e cupins, desumana por defini��o e propensa � corrup��o por sua localiza��o, mora na Cidade Maravilhosa...

Hayek, em �Intellectuals and Socialism� e Mises, em diversos artigos e livros, esquadrinharam essa doen�a que acomete muitas pessoas bem sucedidas na vida, bafejadas pela fama e sucesso, e que as leva a adotarem o socialismo como um escudo, para simularem que, �apesar� de ricos (o que, na maioria dos casos, � apenas reflexo saud�vel da aptid�o natural que possuem), preocupam-se com os �exclu�dos�. A explica��o est� muito mais para os meandros da psicologia do que para as escolhas frias da teoria econ�mica, despida de qualquer capacidade de mergulhar na alma humana.

Sentem-se, de alguma forma, culpadas pelo pr�prio sucesso, quando deveriam sentir-se felizes com os resultados de seu trabalho e talento. E julgam que precisam dar uma �explica��o� para o seu �xito, at� mesmo para que possam continuar a usufruir as del�cias mundanas da fama. Acham que devem justificar-se perante a �sociedade civil� e o fazem apoiando o socialismo e, naturalmente, o cruel regime cubano. Assim agindo, a massa ignorante - que n�o sabe distinguir entre igualdade de oportunidades e igualdade por decreto -, os v� com bons olhos.

Os atletas de Cuba podem ser mal educados e provocadores, mas s�o, em geral, excepcionais. N�o mais do que os nossos, s� que, como em qualquer ditadura que se preze, l� o Estado trata os esportes como uma quest�o pol�tica, de afirma��o da pretensa superioridade do regime. Da� o seu sucesso e as suas medalhas. Mas quem se apropria de suas suadas vit�rias, a n�o ser os que mandam no pa�s?

De que adianta voc�, amigo leitor, bater um recorde mundial em sua modalidade, se, ao retornar ao seu pa�s, mesmo tendo comprovado o seu talento e vendo coroados de �xito o seu esfor�o, vai continuar a ter direito aos mesmos quatro ovos de galinha mensais que o governo estabelece como cota para todos? � �bvio que, na primeira oportunidade, ap�s pesar custos e benef�cios da decis�o de pedir asilo no exterior, muitos decidem que o custo de ficar longe da p�tria, da fam�lia e dos amigos � inferior ao benef�cio da liberdade e do �xito que podem obter no estrangeiro.

Estes s�o os motivos das fugas. N�o h� outros. Se algu�m com mem�ria melhor do que a minha conseguir apontar algum caso de um vietnamita do sul que fugiu para o Vietn� do Norte, de um ex-alem�o ocidental que se evadiu para a antiga Alemanha comunista, de um coreano do sul que escapou para o norte ou de um norte-americano  que buscou asilo em Cuba, darei o bra�o a torcer.

Porque o para�so cubano, com todas as letras, � um falso �den, est� mais para um pres�dio leteu, do Letes, um dos cinco rios do Inferno mitol�gico.

 

 

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